A Compós entrevistou Luana Chinazzo Müller, jornalista (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e doutora com dupla titulação – em Comunicação pelo mesmo programa e em Sociologia pela Université Paul-Valéry Montpellier III. Realizou pós-doutorado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), é professora e pesquisadora pós-doc no PPGCOM/PUCRS e integra o Laboratório de Comunicação de Risco (Cuidar_Com), o Grupo de Pesquisa Tecnologias do Imaginário (GTI) e o Laboratório de Internet e Ciência de Dados (LABIC/UFES). Luana é autora da tese “Socialidade e desinformação: análise de imaginários sobre as vacinas contra a Covid-19 no X (antigo Twitter)”, menção honrosa da categoria no Prêmio Compós de Teses e Dissertações Eduardo Peñuela 2025.
Compós: Eu vou começar com a pergunta que eu sempre faço para os entrevistados: o que significou o Prêmio Compós? Na sua vida pessoal, na vida acadêmica e profissional?
Luana: Foi uma grande honra pra começar. Eu lembro que, quando eu estava no mestrado, eu fiz uma disciplina de seminário na PUCRS. Os seminários são disciplinas intensivas em que a gente recebe professores de outras universidades, professores internacionais… E eu fiz com o professor Marco Roxo, da UFF, que incluiu na bibliografia uma dissertação que ganhou o Prêmio Compós, a do Márcio Teles. E eu fiquei pensando “nossa, que legal ganhar um Prêmio Compós. Imagina como tem que ser bom esse trabalho?”. E pareceu uma coisa tão fora do alcance, pela dimensão da Compós na área da Comunicação, fazer um trabalho reconhecido dessa forma, pareceu algo muito absurdo… E isso foi a primeira coisa que eu lembrei, um amigo me mandou que o trabalho tinha sido indicado e finalista, eu nem sabia que o programa tinha escolhido o meu trabalho e eu fiquei “nossa, eu fui indicada entre muitas teses, que eu sei que são excelentes, e fui selecionada como finalista entre outras diversas teses selecionadas pelos seus programas”. E eu pensei como a vida é… Às vezes, a gente nem se dá conta que almeja alguma coisa ou que é possível chegar em determinado local e as coisas vão acontecendo porque a gente dedicou o nosso tempo, porque fazendo o nosso trabalho a gente chega lá. Eu nem lembrava disso, não visei uma premiação, fiz o melhor que eu pude (dentro de todas as circunstâncias que é fazer um doutorado durante uma pandemia) e consegui ter esse reconhecimento. Então teve esse lado emocional, de lembrança, de memória e tem o orgulho de estar entre tantos trabalhos. Depois eu fui ler os trabalhos, conhecer os finalistas e são trabalhos realmente excelentes. O trabalho que ganhou o prêmio é de um tema tão relevante no momento e, principalmente, no momento em que a premiação ocorreu. É um orgulho enorme e é uma responsabilidade também, pois ter essa validação e representar tantas produções no campo da Comunicação. Tem muitos outros trabalhos tão relevantes e eu me sinto honrada. Eu considero que eu estou representando e que essa premiação é da produção científica na Comunicação porque meus colegas, da minha instituição e em outras instituições, que não foram finalistas ou não receberam a menção honrosa, não tira a validade do trabalho deles. Infelizmente não dá para premiar todo mundo, mas fico feliz por mim com certeza. Em questão de vida acadêmica, teve uma visibilidade muito positiva, eu fui parabenizada por referências, pela minha bibliografia… Receber o Prêmio durante a Compós, com tantos pesquisadores que eu admiro, também foi muito significativo. E profissional, eu acho que dá validação para a minha pesquisa e traz esse peso que eu me sinto honrada em carregar.
Compós: A sua tese fala sobre desinformação, a vacina contra a COVID-19 e esses assuntos convergindo para as redes sociais. Como surgiu esse tema? Como a pandemia influenciou?
Luana: Eu ingressei no doutorado em 2020. Eu tive exatamente uma aula antes da pandemia e da quarentena. Retornei à universidade só no final do ano, no segundo semestre, então fui extremamente impactada. E eu ingressei com outro projeto, me interessava pela questão do negacionismo em uma perspectiva histórica desde a graduação, quando eu estudei como os jornais da época da ditadura civil-militar falavam sobre a efeméride do golpe, as comemorações dos aniversários do golpe… Eu acho que o nosso problema de pesquisa sempre vem de um desconforto que a gente percebe relacionado à sociedade ou um problema que mexe com a gente. Isso foi em 2014, logo depois das jornadas de junho, eu tinha aquela coisa “por que as pessoas negam a ditadura? Por que tem grupos que acham que a ditadura foi boa?”. E daí eu queria entender os discursos dessas festividades que construíram essa ideia de revolução positiva para o país. No mestrado, eu segui trabalhando nessa temática, com o imaginário de 1968 no Jornal O Globo e a minha intenção era entender como foi construída a narrativa política naquele ano, a partir dos eventos políticos que possibilitaram uma conjuntura em que o AI-5 pudesse acontecer. Porque a gente já estava numa ditadura e foi um enrijecimento. Como se construiu os argumentos que basearam essa possibilidade da ditadura dentro da ditadura? Por que as pessoas, ainda hoje, questionam se houve uma repressão, se houve tortura? O AI-5 é um evento político muito importante nesse sentido, de que antes se poderia pensar na ditadura positivamente e depois não. Portanto, eu venho de uma origem e de um interesse de pesquisa do negacionismo histórico. Mas quando começou a pandemia, outras questões começaram a chegar. Não que os outros temas de pesquisas não continuassem com importância, mas começaram a surgir questões muito urgentes. A gente começou a ver a ciência ser totalmente questionada e o negacionismo científico, que já vinha ali pelas beiradas, chegou no centro dessa arena. A gente constrói tanta ciência em relação às vacinas, é um país com uma história vacinal muito estruturada, que tem o SUS, o plano nacional de imunização e que conseguiu erradicar doenças, tem o Zé Gotinha… Como a gente chegou nesse momento, em uma crise sanitária global, em que a gente começa a questionar todos esses elementos que eram parte da nossa sociedade e da nossa cultura? Todo mundo lembra de ir tomar as gotinhas na infância, a gente tem a marca da BCG em todos os brasileiros, a vacinação nunca foi uma questão. Havia essa confiança na saúde pública e como se perdeu isso? Então começou a me mobilizar. Bom, o negacionismo é o fio condutor da minha produção desde a graduação e segue até hoje, e eu comecei a olhar para esse cenário pandêmico do negacionismo científico. Paralelamente, eu já queria entender um pouco mais do funcionamento das plataformas de redes sociais porque, até então, eu sempre tinha trabalhado com jornal impresso. Eu queria entender um pouquinho mais como isso acontecia e qual a influência dessas plataformas no nosso consumo de notícias, como a gente compreende os eventos e os fenômenos. Primeiro, eu pensei em negacionismo científico. Depois eu pensei “não, preciso fechar mais porque eu acredito realmente que a pesquisa, quanto mais focada, a gente tem resultados melhores”. Eu poderia ter falado da cloroquina, de medicamentos, uso de máscara, outros aspectos científicos, mas eu foquei na vacina. Muito por causa desse histórico do Brasil sobre a vacinação e os números mostram que a gente vem numa decrescente em alcançar as metas de vacinação. Bom, a gente está numa sociedade em transformação, em que valores que fundamentaram a nossa sociedade começam a estar em declínio e em que outras formas de sociabilidade e de compreensão do mundo começam a emergir. Então as ciências, as instituições e a democracia, que eram muito caras até então, começam a ser relativizadas. Como a gente tem esse cenário? A gente tem uma mudança muito profunda no ecossistema midiático, muito mais complexo hoje em dia e constantemente em transformação. Quando eu comecei a pesquisa, era um Twitter e ele tinha uma determinada característica, eu tinha acesso a determinados dados… E quando eu terminei, já era outro cenário, era o X. Em quatro anos, a plataforma mudou substancialmente. A gente precisa entender esse contexto também. Então o motor foi a pandemia e a pesquisa foi se desenhando, se estruturando, mais no caminhar da pesquisa.
Compós: A sua tese é bem extensa e robusta. E a sua base teórica, que é o imaginário, traz algumas perspectivas para abordar a questão das narrativas, das percepções sobre a vacinação… Como foi o processo da construção desse arcabouço teórico?
Luana: É importante destacar que eu fiz a minha tese em dupla titulação com a França. Lá, é tradição as teses serem grandes, o referencial teórico bastante robusto e que a análise seja bastante detalhada. No Brasil a gente não costuma ter teses tão longas e não acho que seja necessário uma tese boa ter, sei lá, mais de 500 páginas. Mas eu tive que chegar no meio termo entre os dois países, inclusive pela banca. O meu orientador de lá tinha essa preocupação com o tamanho porque ele sabe que é diferente. E cada pesquisador tem a sua forma de organizar o trabalho, eu, normalmente, organizo por temas que eu acho importante abordar. Sempre começo com o problema de pesquisa, objetivos que eu vou lapidando à medida do caminhar… Eu queria falar sobre o imaginário de vacina, como a desinformação influencia e quais os aspectos desse ecossistema midiático. Tanto a PUCRS como a Université Paul-Valéry são instituições com uma tradição muito forte no estudo do imaginário, por isso os dois primeiros capítulos. Primeiro sobre o imaginário enquanto teoria que surge na antropologia… Eu começo com uma sociologia compreensiva nessa perspectiva de tentar compreender a sociedade, não necessariamente achar soluções, mas compreender os fenômenos, que é uma visão de ciência mais sensível, subjetiva, que se afasta daquela ideia de ciência dura, que busca uma objetividade, uma verdade. A partir dessa proposição, a gente pode hoje fazer uma tese sobre o imaginário, que é algo extremamente subjetivo. Daí sigo com os autores que fundamentaram a teoria do imaginário e depois eu trago isso para o campo da Comunicação. Como o imaginário se conecta, se relaciona aos meios de comunicação, a partir das contribuições do meu orientador no Brasil, o Juremir Machado da Silva, que propõe que os meios de comunicação são tecnologias do imaginário, têm esse caráter de dinamizar imagens simbólicas que vão influenciar a nossa visão de mundo. A partir disso, eu entro no estudo das redes sociais, do Twitter (X), e eu queria entender como foi construída socialmente a ideia de ciência. Se hoje a gente questiona a ciência é porque a ciência é uma construção também. A própria ciência é um imaginário. Na verdade, o primeiro capítulo que eu escrevi depois desse do imaginário foi o que eu chamava inicialmente de “sociologia da ciência”. Eu trago quais são os elementos relacionados à ciência que estruturam o campo científico e como isso se relaciona com as vacinas. E como o imaginário se relaciona com os meios de comunicação e, especificamente, com o Twitter? São esses dois eixos e aí eu entendo “ah, tem um imaginário de ciência, mas há, hoje, no contexto em que a gente está, uma distorção desse imaginário”. Aí eu vou trabalhar com referencial de desinformação, mas ampliando a proposição atual para pensar as narrativas como estratégias de desinformação. O nosso campo tem usado muito a proposição da Wardle e Derakhshan sobre desordem informacional, mas eu acho que ela pode ser trabalhada mais para acrescentar fenômenos, para deixar mais claro essas estratégias em que as emoções são utilizadas para determinados fins e as narrativas fazem isso, elas apelam para as emoções, usam argumentos e relatos de vida que são muito eficazes no convencimento das pessoas. É basicamente essa estruturação da minha tese, foi no caminhar. Fiz o referencial teórico, depois fiz a análise, aí voltei para a teoria porque senti necessidade de outros elementos para dar a sustentação que a minha análise precisava, é um “vai e volta” na pesquisa que é necessário e que acaba enriquecendo.
Compós: Você alia dois caminhos metodológicos, análise de redes sociais e análise de imaginários discursivos. Quais são os principais ganhos dessa proposta?
Luana: Normalmente, as pesquisas vão para um caminho ou outro. As pesquisas de análise de redes sociais ficam na estrutura e relações das redes e param aí. E as análises de imaginário vão só pra análise qualitativa-discursiva e ficam. Eu senti a necessidade de dar um rigor porque eu vou trabalhar com o imaginário, mas eu quero me resguardar de críticas à sua questão muito subjetiva. Eu quero trabalhar com a análise de redes sociais, entendê-las, mas também quero esse olhar sensível. Eu queria criar o meu próprio percurso metodológico, e eu quero destacar o apoio do LABIC, o Laboratório de Internet e Ciência de Dados, e do Prof. Fábio Malini, essenciais para o desenvolvimento da parte de análise de redes sociais. Ele já tinha uma proposição metodológica que pensava em olhar diferentes perspectivas em rede e eu vi muita proximidade com o imaginário. Porque o imaginário, entre algumas das materialidades possíveis, é sobre as nossas visões de mundo, a forma como a gente olha as coisas. Como eu disse, eu venho dos estudos de jornalismo impresso e análise discursiva, então foi essencial até para aprender a trabalhar com métodos digitais. Depois eu fui fazer pós-doutorado lá no ano passado, foi sensacional, sigo colaborando com o laboratório e eles são muito generosos com pesquisadores de fora. E eu acho que foi importante trazer as duas metodologias alinhadas porque o meu problema de pesquisa é complexo, nesse sentido de trazer o olhar sensível sobre um fenômeno que estava acontecendo e que também é mais objetivo. Eu acredito que a metodologia a gente vai construindo no caminho, com as ferramentas que a gente usa para resolver um problema. Bom, eu olhei para as redes sociais, para as estruturas delas, como as pessoas se organizam no Twitter e ficou muito claro os diferentes grupos dentro da rede. O grupo que eu chamo de “desinformativo”, por onde circulava mais desinformação e muito marcado pelo apoio ao Governo Bolsonaro… E um grupo “informativo”, em contraponto, em que estava a imprensa, os veículos de comunicação, os divulgadores científicos. E ainda um grupo (que eu trabalhei junto, embora tenha sido clusterizado separadamente) focado em influenciadores digitais a partir de conteúdos que viralizaram sobre as vacinas no período. Então a estrutura ficou muito clara a partir da análise de redes sociais, ver como as pessoas se organizam, onde está a desinformação, quais as notícias compartilhadas, as hashtags, o que está se falando da vacina. Agora, como eu vou usar a lente do imaginário para olhar esse fenômeno? E eu fui buscar apoio na análise discursiva de imaginários que é também uma proposta do Juremir, que pensa o imaginário como discurso e busca o que gera sentido na mensagem. Eu selecionei uma amostragem de mensagens e analisei 475 tuítes de diferentes grupos com maior engajamento. Os que tinham maior representatividade nesta análise semântica, cujos termos eram mais frequentes, eu utilizei para analisar qualitativamente e trazer essa lente do imaginário. Mas a metodologia tem que ser uma ferramenta, ela não pode ser dogmática, não pode ser uma doutrina. Ela precisa ter rigor, precisa estar bem explicada, ser possível replicar. Mas a gente pode construir esse caminho aliando diferentes métodos para diferentes questões. E eu tentei construir isso.
Compós: Para quem ainda não leu a sua tese, o que você gostaria de compartilhar? Qual é o resultado mais relevante ou mais interessante, ou ainda que te surpreendeu?
Luana: Primeiro, eu categorizo as principais narrativas sobre a vacina. As principais, não todas, entre aquelas dentro dessa análise qualitativa, positivas e negativas. Eu não olhei só para o imaginário que vem da desinformação, mas todo o imaginário das vacinas. É um resultado importante para a gente entender o que se fala sobre as vacinas no Brasil. Segundo, da perspectiva do imaginário, eu percebo que o debate está muito estruturado no antagonismo: ou a vacina é algo muito bom, o herói que vai nos salvar, ou é algo muito ruim, um monstro que precisa ser combatido. Na perspectiva do imaginário, o que Gilbert Duran chama de regime diurno da imagem, está essa oposição muito clara dos símbolos. Mas aí a gente começa a ver a emergência de um novo imaginário mais no regime noturno, um regime de confusão. Os tuítes que mais viralizaram não seguem essa lógica do bem ou mal, mas da eufemização… “Talvez a vacina não seja tão boa, mas ela vai me permitir ir pra festa, então eu quero essa vacina”… “Eu faço tanta coisa duvidosa no meu dia a dia, pego uber com desconhecido, tomo vodca barata numa festa, como alimento industrializado, por que eu não vou tomar vacina?”. É uma narrativa do “mal menor” muito evidente. Eu analiso três períodos diferentes de 2020 e o terceiro é quando o Bolsonaro fala sobre virar jacaré, então o humor do Twitter é uma característica muito forte. “Tudo bem, vou virar Jacaré, mas me dá a vacina para eu poder ir à praia”. Aí tem uma imagem de um jacaré na praia, um na beira do lago. Tem um outro imaginário que conversa com a ideia de pós-modernidade, que foge dessa lógica e eu acredito que uma forma de combater a desinformação é ir para esse lado lúdico, romper essa dicotomia em que está baseada a desinformação e a informação. O terceiro resultado, e isso não era algo que eu estava procurando, mas com certeza é o principal para a área, é pensar como a desinformação é um elemento socializante, ela organiza a sociedade, os grupos sociais, contribui para a construção e fortalecimento de laços sociais, identificação, pertencimento… Aqueles grupos que estão bem marcados vão falar sobre a desinformação, seja para circular ou para combater. Compartilhar fact checking ou responder desinformação ou rir. Mas durante a pandemia, o conteúdo desinformativo foi essencial para que as pessoas comungassem, para que estivessem em sociedade e debatessem com seu grupo. Isso é a base do que eu venho trabalhando, uma proposta de sociologia da desinformação, como a desinformação organiza os grupos sociais.
Compós: E sobre a sua trajetória na pós-graduação, o que você gostaria de compartilhar?
Luana: O mais marcante em toda a minha pós-graduação, e especialmente no doutorado, foi a colaboração. Entre pesquisadores, entre instituições, entre grupos de pesquisa… Eu sou muito agregadora como pesquisadora, participo de inúmeros grupos de pesquisa, converso com todo mundo e eu considero como qualidade (que eu não sabia que tinha antes de entrar na pós). O mestrado é muito curto, é muito difícil, mais que o doutorado, porque é muita coisa em pouco tempo, muitas disciplinas, muitos artigos, aprendendo a lógica do campo científico e da academia, tem que desenvolver uma dissertação… No doutorado tem tempo para descobrir as tuas fortalezas, trocar com outros pesquisadores, ir atrás do que quer realmente desenvolver, para maturar a ideia da pesquisa. Eu entrei no doutorado e eu sempre quis fazer pelo menos parte dele na França. No mestrado, eu fui muito influenciada pelo Maio de 1968 francês, tinha essa admiração por esses movimentos jovens. Eu fui atrás disso e encontrei muitas portas abertas, muitos pesquisadores dispostos a conversar. Às vezes, quando a gente está em formação, tem vergonha de falar com alguém, medo de dizer o que quer, de criar expectativa. E é o que eu digo hoje para os meus alunos, agora que sou professora, “digam o que vocês querem, digam para o universo, para as pessoas. Elas não vão saber que vocês querem algo, a não ser que vocês digam”. E tem muito mais gente disposta a acolher do que pessoas que vão fechar a porta. Eu só encontrei gente disposta, todo mundo que eu fui atrás me recebeu com muito carinho. As pessoas às vezes ficam surpresas porque é algo pouco feito na academia. Mas a ciência cresce pela colaboração, pelas redes de pesquisa e a nossa geração de pesquisadores tem a chance de fazer diferente, ser acolhedor com o outro, ser generoso. A gente tem exemplos de pesquisadores seniores assim. Eu tive muita sorte com meus orientadores, com o Prof. Fábio que me recebeu maravilhosamente, e eu sei de doutorandos, mestrandos, recém doutores que também tiveram. Então eu queria destacar a importância da colaboração nesse processo e a importância da gente ir atrás e estar aberto para quem vem até a gente também, sabe? Eu pretendo ser esse tipo de professora e retornar tudo o que eu recebi de acolhimento. Queria também destacar o papel da Compós nisso ao reunir os PPGs, tem coisa mais agregadora do que isso? Que bom que existe a Compós, que existe a Intercom e outras instituições também.
Compós: Muito obrigada pela sua participação e pela entrevista, Luana. Eu sempre deixo um espaço aberto para os entrevistados, então fique à vontade.
Luana: Eu gostaria muito de registrar o agradecimento expresso ao meu PPGCOM, ao Departamento de Sociologia da França que me recebeu muito bem, ao meu orientador de lá, o Prof. Philippe Joron, e a todos os professores, ao LABIC essencial para o resultado da minha pesquisa, e à Compós e à Comissão que avaliou os trabalhos. Uma coisa que me emociona, que era uma referência importante para mim, é o Igor Sacramento. Eu acho que ele chegou a participar da primeira fase e eu fiquei “será que ele chegou a ler meu trabalho?”. É meio egocêntrico, eu sei, mas foi uma perda muito grande para o campo… Então agradecer aos professores, aos pesquisadores que participam voluntariamente desse processo que é importante, não é todo mundo que faz os eventos acontecerem, que avalia trabalho, coordena GT… Agradecer à PUC, à Paul-Valéry, à UFES. E a você pelo seu tempo de novo, foi ótimo conversar contigo e que bom que vocês dão esse espaço de visibilidade pra gente.
Você pode ler a tese vencedora na íntegra, acessando este link.